As Ilustrações de Harry Clarke para os contos de Edgar Allan Poe

Escritor que sabia como poucos criar imagens perturbadoras, Edgar Allan Poe inspirou, com seus contos, o trabalho de grandes ilustradores. Um deles foi o irlandês Harry Clarke, que produziu, para uma edição de contos de Poe, desenhos de grande impacto visual. É esse volume que ganhou recentemente uma versão brasileira pela Tordesilhas.

A bela edição é coroada pelas vinhetas produzidas entre 1917 e 1919 por Harry Clarke (1889 – 1931). Liderança irlandesa do movimento Arts & Crafts, que postulava atenção e cuidado às artes decorativas, Clarke trabalhou como ilustrador para edições de obras de Hans Christian Andersen e Charles Perrault. Seu trabalho com os contos de Poe (1809 – 1849) é considerado uma de suas obras-primas. 
Publicada originalmente em 1919, a edição de Contos de Imaginação e Mistério com os trabalhos de Clarke é considerada uma das mais suntuosas já produzidas para o trabalho do mestre americano do conto – frequentemente comparada à de outro grande ilustrador britânico, Aubrey Beardley (1894 – 1895). 
Detalhista, minucioso e com imaginação exuberante, Clarke traduz, nas duas dezenas de ilustrações, rebuscadas, com uso inteligente de hachuras e do contraste entre preto e branco, as atmosferas densamente construídas nas narrativas de Poe. São obras em que é possível vislumbrar lado a lado horror, beleza e decadência, três características essenciais dos contos de Poe, repletos de personagens mergulhados nos mais claustrofóbicos desvãos da alma humana. 
Na seleção, como costuma ocorrer com as coletâneas de Poe, há uma mescla entre as obras clássicas presentes na maioria das coletâneas com outras peças pouco conhecidas dentre a produção do autor americano (que, além da poesia e do conto, também incursionou por gêneros como a fábula). Estão lá O Gato Preto, O Escaravelho de Ouro e O Poço e o Pêndulo, por exemplo, listadas, em uma pesquisa realizada em 2011 pela tradutora Denise Bottmann, entre aquelas com o maior número de versões traduzidas no Brasil. Os Assassinatos da Rue Morgue e O Mistério de Marie Roget, duas das três histórias com as quais Poe inaugurou o gênero policial, também estão na coletânea (embora, estranhamente, não esteja lá A Carta Furtada, para alguns a mais bem realizada das três). 
Mas há também narrativas pouco conhecidas e pouco traduzidas, como Silêncio: uma Fábula, história de inspiração oriental narrada por um demônio, a alegoria O Rei Peste e o estranhíssimo Leonizando, com um protagonista obcecado pelo estudo da Nosologia, a ciência dos narizes. Mesmo que estes últimos não sejam contados entre as melhores narrativas do autor, trazem ainda a marca de mestre visível na maior parte do trabalho do maior gótico americano.

Fontes: zh.clicrbs.com.br
































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